18 de mar. de 2011

Richard Baxter: O Descanso eterno dos Santos

Esse descanso só pode ser Deus, o bem maior. Aquele que pega qualquer outra coisa para sua felicidade, já deu o primeiro passo para sair desse caminho. O principal pecado para a condenação é tornar qualquer outra coisa, que não Deus, nosso fim ou nosso descanso. E o primeiro verdadeiro ato salvador é escolher apenas Deus como nos-so fim e felicidade.

Para esse fim, pressupõe-se certa distância; caso contrário, não haveria nenhum movimento em sua direção. Essa triste distância é fato penoso para toda a humanidade desde a queda; basicamente foi nosso Deus que perdemos, e fomos excluídos de sua graciosa presença. Embora haja comentários de perdermos apenas nossa felicidade terrena e temporal, tenho certeza de que a queda foi nossa separação de Deus, e foi a ele que perdemos e, por essa razão, dizemos estar sem ele no mundo. [...] Pois o pecado não destruiu nosso ser, nem nos tirou o movimento; mas aniquilou a retidão e o bem-estar de nosso movimento. Quando Cristo vem com a graça regeneradora e salvadora, ele não encontra nenhum homem sentado e imóvel, uma vez que todos estão a caminho da ruína eterna, até que ele, pelo convencimento, os traz antes de mais nada a uma parada; e, pela conversão, faz com que, primeiro, o coração e, depois, a vida deles se voltem sinceramente para ele. [...]
Aqui se pressupõe o conhecimento do fim verdadeiro e supremo e de sua maravilha, bem como da intenção séria de alcançar esse fim. Pois o movimento da criatura racional prossegue: um fim desconhecido não é um fim; isso é uma contradição. Não podemos ter como fim aquilo que desconhecemos; tampouco nosso principal fim pode ser aquilo que não conhecemos, ou algo que não consideramos como o bem supremo. Um bem desconhecido não faz mover o desejo nem o esforço; portanto, sempre que não se reconhece que Deus é verdadeiramente esse fim, nem que o Senhor contém todo o bem, não há a possibilidade de se obter, de uma forma comum e conhecida, nenhum descanso, quaisquer que sejam as formas pelas quais Deus mantém esse fim em segredo.
Aqui se pressupõe não apenas uma distância desse descanso, mas também o verdadeiro conhecimento dessa distância. Se um homem perdeu seu caminho e não o conhece, ele não procura retornar; se ele perde seu ouro, e não o conhece, ele não o busca. Portanto, talvez eles nunca saibam que estão sem Deus e, ainda talvez, não tenham se deleitado no Senhor; e, desse modo, eles nunca poderiam saber que estavam natural e realmente no caminho para o inferno, e que ainda não conhecem o caminho para o céu. [...] Esse é caso lamentável de milhares de pessoas, e a razão pela qual apenas poucos obtêm esse descanso: eles não podem ser convencidos nem tornar-se sensíveis a ele, pois eles, quanto à posição, estão distante desse caminho e, quanto à prática, são contrários a ele. Eles perderam seu Deus, sua alma, seu descanso, e não conhecem nada disso nem acreditam naquele que lhes disser isso. Quem viajaria para um local se achar que já está lá, ou quem procuraria algo que sabe que não perdeu?      (Cap.3 O que esse descanso pressupõe)

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